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Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, discursa na Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas, em Jerusalém (18/2/2024) | Foto: Reuters/Ronen Zvulun//Foto de Arquivo
Edição 216

Netanyahu e a guerra ao terror

O atual primeiro-ministro de Israel, no cargo por mais tempo que todos os antecessores, é criticado, mas mantém suas convicções na luta contra o terrorismo

Eugenio Goussinsky
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Noite de sábado, 13 de abril, em Israel. Fim do shabat, dia sagrado. Benjamin Netanyahu, de 74 anos, não está relaxado, como o momento costuma ser. É levado, em corredores escuros, por agentes de segurança a uma aeronave especial, o “Doomsday plane” (“avião do Apocalipse”). No céu, mísseis iranianos se multiplicam a caminho do país. O primeiro-ministro precisa de proteção.

Em Israel, é uma questão estratégica preservar o líder. As operações militares, para Netanyahu, remetem a uma situação de dor. Seu irmão mais velho e ídolo, Yonatan (Yoni), foi o único oficial morto ao comandar o resgate de reféns em Entebbe, em 1976. Tornou-se herói nacional. Naquele ano, Netanyahu se formou como o primeiro da turma no Massachusetts Institute of Technology Sloan School of Management, nos Estados Unidos (EUA).

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O pai deles, Benzion, era doutor em história. Foi braço direito do maior líder da direita da história israelense: Vladimir Jabotinsky. Lecionou em universidades dos Estados Unidos, para onde levou a família. Defendia a tese de que os judeus passaram a existência sob seguidos holocaustos. Também era referência para Benjamin. Benzion morreu em 2012, aos 102 anos. 

Benzion e sua mulher, Tzilla, tiveram três filhos: Yoni (nascido em 1946, em Nova York), Benjamin (Tel-Aviv, 1949) e Iddo (Jerusalém, 1952), médico e dramaturgo.

Benzion e Benjamin Netanyahu, pai e filho | Foto: Michal Fattal/Flash90

O momento em que Netanyahu foi levado para o avião durante o ataque iraniano também simboliza a sua solidão no poder. 

A única maneira de conseguir um acordo

Voltam-se contra ele as acusações de uma suposta negligência que teria causado o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, quando cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas, e 235, sequestradas. Ou de que ele alimentou o grupo terrorista ao afastá-lo da Autoridade Palestina. Assim como se repetem denúncias de corrupção, de união aos extremistas religiosos, de apego ao poder etc. 

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Netanyahu passou por cirurgia de hérnia recentemente. O rosto cansado evidencia alguém que não visaria apenas a seus próprios interesses, sem desejar que tudo isso acabasse. Nem as Cortes de Israel, país mais democrático da região, permitiriam.

Netanyahu quer a vitória de Israel. Deseja e precisa do retorno dos reféns. Mas sua mente pragmática não aceita a ideia de concessões ao terror.

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“A única maneira de conseguir um acordo ou obter os reféns é colocar muita pressão no Hamas”, afirma Sarit Zehavi, tenente-coronel da reserva que serviu por 15 anos nas Forças de Defesa de Israel (FDI) e preside o Alma Research and Education Center, especializado em segurança. “Não é uma questão de querer destruir Gaza nem de alvejar civis. O mundo está vendo de uma forma errada e também se prejudicará. Os israelenses querem o Hamas derrotado. Se isso não ocorrer, como as pessoas poderão voltar às suas casas no sul e viver com a sombra do grupo? E como o mundo vai sobreviver se o terror for permitido?”

“Cada um em Israel tem uma opinião diferente sobre Netanyahu”, afirma Shaked Weizmann, estudante de engenharia em Bar-Ilan. Isso reflete a palavra “balagan“(“bagunça”), que ilustra com humor o fato de que os israelenses são eternos debatedores. Guerras, porém, antigamente costumavam unificar mais o país do que neste momento. 

Comando central de guerra

Dos mísseis iranianos Netanyahu conseguiu se proteger com auxílio das FDI. Já contra as críticas é ele mesmo quem se blinda. Desde a hora que vai para o trabalho, por volta das 11 da manhã, até o fim do dia.

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Em fevereiro de 2023, o Knesset (“Parlamento”) aprovou um pedido feito por Netanyahu de financiamento estatal para cobrir obras em suas residências privadas, em Jerusalém (curiosamente localizada na Rua Gaza) e em Cesareia. 

O motivo alegado foram questões de segurança. Ele, nesta época de drones, precisa de um resguardo mais reforçado. Por esse motivo, a própria residência oficial dele, pertencente ao Estado, também passa por reformas.

Netanyahu tem três filhos — Noa Netanyahu-Roth (46 anos, do primeiro casamento), Yair (32 anos, que está na Flórida, nos Estados Unidos) e Avner (29 anos) — e atualmente mora com a mulher, Sara, na casa do empresário norte-americano Simon Falic, em Jerusalém. A mansão, no bairro de Talpiot, é considerada propícia para resistir a um ataque-surpresa.

A rede Al-Jazeera apresentou estudo em que ele é definido como narcisista e inseguro. Outro, porém, realizado em 2021, o colocou como “altamente carismático”

O líder israelense só sai de lá para ir a reuniões do Comando Central de Guerra, em Tel-Aviv. Mantém, durante o dia, reuniões com seus ministros mais próximos, os controversos Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças), ambos membros da coalizão mais radical de direita.

Netanyahu chegou ao poder em 1996 e cumpriu um mandato de três anos antes de ser substituído por Ehud Barak. Seu retorno ocorreu em 2009, quando permaneceu por 14 dos últimos 15 anos. Boa parte das eleições foi resolvida por meio da habilidade dele em compor maioria no Parlamento.

Nesse período, sempre que o tempo de Netanyahu parecia se esgotar, ele ressurgiu. Em 2015, quase derrotado, apelou para o público mais religioso e foi reeleito.

Depois de perder o cargo de primeiro-ministro durante um ano, quando uma aliança de partidos com diferentes linhas assumiu, ele regressou em 2022. Dessa vez, apoiado pelos grupos ortodoxos e nacionalistas de direita. Tornou-se o primeiro-ministro que permaneceu por mais tempo no cargo.

Netanyahu lista reféns israelenses
Benjamin Netanyahu observa as imagens dos reféns do Hamas, depois do ataque de 7 de outubro | Foto: Reprodução/Instagram/Benjamin Netanyahu
Posições linha-dura

A rede Al-Jazeera apresentou estudo em que ele é definido como narcisista e inseguro. Outro, porém, realizado em 2021, pelo professor jordaniano de ciências políticas Walid ‘Abd al-Hay, o colocou como “altamente carismático, com uma memória forte e elevada capacidade analítica”. 

“Numa carreira no topo da política israelense, que se estende por quase três décadas, esses atributos funcionaram frequentemente para ele”, afirma a reportagem.

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Excelente no discurso, Netanyahu atrai todos os holofotes. Mas, em questões de segurança, não decide sozinho. A palavra dos comandantes das FDI é a que mais pesa. O primeiro-ministro não pode ordenar a invasão de algum local apenas porque é de seu interesse.

“Há questões sobre a segurança que não dependem de Netanyahu, quer ele queira, quer não”, ressalta a militar Zehavi.

Isso não o impediu de entrar para a política. Ao contrário do seu pai, Benzion, que nunca conseguiu abrir mão de suas posições “linha-dura” de direita, segundo disse Reuven Rivlin à Rádio Israel, quando era porta-voz do Knesset.

“Foi difícil para o pai de Benjamin ser político, porque ele não conseguia desistir dos seus pontos de vista.” Rivlin acrescentou que o pai tinha grande dificuldade em ver o seu filho Benjamin fazer concessões políticas, como o acordo de Hebron para ceder parcialmente o controle da cidade. 

Influência paterna

Benzion, porém, influenciou as opiniões e pontos de vista dos seus filhos sobre o sionismo. Foi o que mobilizou o primeiro-ministro, em sintonia com as FDI, a não aceitar a última proposta do Egito e do Catar para um cessar-fogo contra o Hamas. 

Há também diferenças em relação ao pai. Benjamin, por exemplo, enviou emissários ao Egito para ouvir sua proposta. Mas, de acordo com o governo israelense, a posição do Hamas era de adiar a devolução dos reféns para depois do fim da guerra

“Israel não pode aceitar uma proposta que põe em perigo a segurança dos nossos cidadãos e o futuro do nosso país”, afirmou Netanyahu, sem deixar de mencionar que não se esqueceu dos reféns.

Ao dizer essas palavras, Netanyahu sabia que seria alvo de uma nova saraivada de críticas. Está acostumado. A questão palestina, para ele, não é a cartilha defendida pelo Hamas, conforme afirma a presidente da Congregação Israelita Paulista, Laura Feldman. Há interesses financeiros, o objetivo de destruir Israel e de implantar na região um regime teocrático. O que ampliaria o poder do Irã, maior apoiador do Hamas.

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“O Hamas, como um governo autoritário, teve a opção de desenvolver a região a partir de 2006”, afirma ela. “Mas o grupo sempre preferiu alimentar o ódio aos judeus, ignorar os tratados de paz, menosprezar as ações israelenses que ajudavam e davam trabalho aos palestinos, e escolheu a guerra. O ataque de 7 de outubro não foi a única opção do Hamas, não foi um ato de resistência, foi um ato terrorista.”

É isso que Netanyahu tem em mente quando discursa em rede nacional. O objetivo dele, na condição de maior resistente, é disputar as próximas eleições, marcadas para 2026. Netanyahu aprendeu a gostar de carregar nas costas a história de sua família e o destino de Israel.

Hamas, Eliminado, Joe Biden
Benjamin Netanyahu visita os soltados israelenses no front: “Com nossos lutadores, estamos preparados”, disse | Foto: Reprodução/Redes Sociais

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4 comentários
  1. Alex Rodrigues dos Santos
    Alex Rodrigues dos Santos

    Se eu fosse israelita, não iria querer outro líder!

  2. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Sonho um dia conhecer Israel.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Por que é tão difícil de entender que Israel está do lado certo contra o terrorismo? Os estudantes do ocidente estão ficando cegos ou ser progressista é sinônimo de intelectual? O intelectualismo é sonho de narcisista, a Inteligência Artificial é o meio para a sobrevivência e enfrentar barreiras. Isso é evolução, não tem outro caminho

  4. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Gostaria de saber de ti uma opinião sobre um programa que assisti, por acaso, na CNN ontem à noite. O cmopanheiro de bancada de Thais Herédia, no programa WW disse algo que me intrigou. Entendi que ele é contra Israel e deixoiu transparecer que Israel não deveria estar ali, pois é ilegal a criação do EStado de Israel… Parece que para ele os judeus não estavam ali dssde os tempos bíbliocos e que invadiram uma terra que era dos outros…. Parece mentira, mas entendi errado?

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