Carta ao Leitor — Edição 79

Além da preservação do meio ambiente e da igualdade social, a bandeira das artes foi sequestrada com tal competência pela esquerda que é sempre surpreendente a aparição de algum habitante desse universo que se apresenta como “de direira” ou liberal. Essas qualificações foram transformadas em estigma pelos caciques do meio artístico.

O crescimento da tribo dos liberais é o tema da reportagem de capa desta edição, dividida em duas partes que se complementam. Na primeira, Silvio Navarro descreve os bastidores do humor sem medo dos Hipócritas. Com base em Itajaí, município do litoral catarinense com 220 mil habitantes, o trio de humoristas produz vídeos que colidem com a ditadura do Judiciário e as intransigentes patrulhas do politicamente correto.

Na segunda parte, Dagomir Marquezi apresenta outros artistas que enfrentaram o que parecia uma regra sem exceção. Joe Bennett, ilustrador do Incrível Hulk, foi demitido da Marvel depois que o parceiro de trabalho avisou que não trabalharia mais ao seu lado por causa de um quadrinho feito em 2017. Nesse HQ, Bennett criticava a roubalheira dos governos petistas. Luciano Cunha é criador do Doutrinador e do Destro — personagem que num futuro próximo luta contra a tirania de um governo global comunista. E a Brasil Paralelo, produtora com mais de 50 documentários no portfólio, que tratam de temas como o movimento militar de 1964, a pandemia e o funcionamento do Supremo Tribunal Federal.

Além do pensamento político “à direita”, eles compartilham incontáveis tentativas de censura promovidas por militantes partidários, agências de checagem, linchadores virtuais e outras tropas de patrulheiros. Os intolerantes não se limitam a impedir o direito de discordar. Também acham necessário silenciar quem diverge.

É esse tipo de “cancelamento” que se amplia nas universidades e vai consolidando um ambiente que rejeita o convívio dos contrários. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostrou que 80% dos estudantes de direita se autocensuram por temer as reações às suas opiniões políticas. Entre os alunos de esquerda, apenas 24% agem da mesma forma. Como registra a reportagem de Artur Piva e Edilson Salgueiro, é estranho constatar que um lugar nascido para privilegiar a pluralidade de ideias se torne um reduto monotemático de pensamentos e um santuário de verdades inquestionáveis.

Não é aconselhável, por exemplo, contestar o método Paulo Freire numa roda de professores ou alunos da Faculdade de Letras da USP. O educador pernambucano é um dos muitos ícones intocáveis no meio acadêmico. Nesta edição, J. R. Guzzo e Rodrigo Constantino escrevem sobre o autor, cujo centenário de nascimento foi comemorado nesta semana. “Seu grande ‘mérito’ foi justamente esse: transferir para as escolas a velha ‘luta de classes’ marxista, que enxerga apenas ‘oprimidos’ e ‘opressores’ em tudo que é lado”, afirma Constantino.

A educação em geral e especialmente o novo ensino médio inspiram a reportagem de Pedro Henrique Alves. “Apenas 8% dos estudantes do ensino médio com idade para trabalhar são capazes de interpretar textos e gráficos, bem como elaborar textos de complexidade razoável”, revela Alves. Entre os três principais problemas brasileiros, como afirmou Guzzo em seu programa semanal no canal da Revista Oeste no YouTube, o analfabetismo é, sem dúvida, o pior deles.

P.S.: o artigo de Ana Paula Henkel volta a ser publicado na próxima semana.

Boa leitura.

Branca Nunes
Diretora de Redação