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Edição 28

Debate para quem precisa

“Eu sabia que eu ia vencer.” “Quem venceu fui eu. Só estou ajudando o eleitor que não aguenta mais te ouvir.”

Guilherme Fiuza
-

Melhores momentos do debate presidencial nos EUA:

— A minha Casa Branca é mais branca que a sua.

— Racista!

— Repete, se tu é homem.

— Racista, racista, racista!

— Quem repete três vezes não é homem.

— Falei uma vez e repeti duas, seu ignorante.

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— Não, você já tinha falado uma e repetiu três. Não sabe nem fazer conta e quer governar a maior potência mundial.

— Vidas negras importam.

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— Não falei de vidas negras. Falei de Casa Branca.

— Supremacista é assim mesmo: só fala de brancura e depois nega o preconceito ariano.

— Geminiano.

— O quê?

— Você disse meu signo errado. Fake news!

— Fake news é você, não falei de signo! Ariano se refere à raça branca, que o Hitler queria que esmagasse as outras.

— Hitler era de esquerda.

— De direita.

— Esquerda.

— Direita, direita, direita.

— Batendo o pezinho assim no chão você pode até convencer o eleitor de que não é uma múmia paralítica.

— Sua declaração é altamente preconceituosa. Vou pedir seu impeachment.

— Não tem preconceito nenhum. Só acho que as múmias gastam muito esparadrapo.

— Você está defendendo a redução das verbas para a saúde?

— Não. Só acho que o contribuinte não devia carregar nas costas múmias como você.

— E essa sua tintura laranja? Por que o povo tem que arcar com isso?

— Meus gastos pessoais são privados. Na minha cabeça, quanto menos Estado, melhor.

— Não falei de gasto. Falei de gosto. O povo norte-americano é visualmente agredido toda vez que você aparece na televisão com esse penteado de fogueira amazônica.

— Não foge pro Brasil. Estamos falando da América.

— Brasil também é América.

— Não é.

— É.

— Não é.

— América do Sul. Meu pensamento é planetário.

— Estratosférico.

— Também. Eu penso no planeta e em todas as suas camadas. Viva a diversidade. Você só pensa no seu quintal.

— Não vai me chamar de xenófobo?

— Vou. Xenófobo e chinófobo.

— O quê?

— Chinófobo. Tem preconceito contra a China.

— Chinófobo deveria ser fobia, não?

— Dá no mesmo.

— Como você quer governar os Estados Unidos da América se não sabe nem a diferença entre fobia e preconceito?

— Sei a diferença. Só estou dizendo que os dois se fundem em você.

— É verdade. Tenho fobia e preconceito contra a mentira.

— Desde quando? Hoje de manhã? E a Rússia?

— E a Ucrânia?

— E a gambiarra no imposto de renda?

— E a gambiarra no FBI?

— Vou cantar o hino ajoelhado enquanto você estiver nessa cadeira.

— Vou esperar sentado você desistir de ficar de joelhos pra terrorista.

— Repete se tu é homem.

— Múmia paralítica e, como se não bastasse, surda.

— Preconceituoso e arregão.

— Demagogo e frouxo.

— Racista e misógino.

— Mis… o quê?

— Miss cabeça de queimada 2020.

— Bucha de antifa.

— Quem sabe de Bush é você.

— Falei bucha, animal.

— Como se chama quem tem preconceito contra os animais?

—  Acho que é bichofóbico.

— Homofóbico!

— Não foi isso que eu disse.

— Eu sei. Mas bichofóbico me lembrou homofóbico, e eu te chamo do que eu quiser, porque isso aqui é uma democracia.

— Não era fascismo?

— Depende do ponto de vista.

— OK.

— Eu sabia que eu ia vencer.

— Quem venceu fui eu. Só estou ajudando o eleitor que não aguenta mais te ouvir.

— Então me despeço aqui pra ajudar o eleitor que não aguenta mais te ver.

Goodbye.

Goodbye.

Essas foram as principais propostas dos candidatos. Reflita e exerça o voto consciente.

Nesta edição leia mais sobre o debate eleitoral norte-americano nos artigos “O crescente radicalismo democrata”, de Rodrigo Constantino, e “O debate caótico e o futuro dos EUA”, de Ana Paula Henkel

 

 

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