O jogador Rodri, do Manchester City, chegou ao Théâtre du Châtelet, em Paris, no dia 28 passado, de muletas, para a cerimônia da Bola de Ouro 2024. Percorreu o trajeto cercado de vaias, mas exibia um olhar sereno e tranquilo. A hostilidade parecia não pesar para ele, que age com a mesma elegância diante de adversários traiçoeiros.
Rodrigo Hernández Cascante, de 28 anos, reagiu com educação à avalanche de desrespeito, enquanto se recuperava de uma contusão. A revolta se deu pelo fato de o brasileiro Vinicius Júnior, de 24 anos, atacante da seleção e do Real Madrid, não ter conquistado a primeira colocação. O termo “preterido”, porém, não é adequado para Vinicius. Ele, afinal, ficou com o honroso segundo lugar nessa premiação da revista France Football. Para alguém que carrega uma bandeira antirracista, essa posição não é ruim.
Nesse cenário de inconformismo, alimentado pelas redes sociais, muitos jogadores e torcedores passaram a valorizar prêmios individuais. Presos a aparências e modismos, deixaram de lado a essência do futebol, que é o trabalho em equipe. A vaidade, disfarçada de justiça, passou a guiar os passos de muitos, em vez do respeito pelo adversário. A autoconfiança de Vinicius Júnior, louvável em sua luta contra atos racistas, contrasta com a arrogância de se achar injustiçado por perder para quem teve melhor desempenho, segundo quem votou.
A ideologia lacradora aproveitou-se desse modismo para criar discórdia e desviou o foco da cerimônia, que deveria ser um símbolo de confraternização. A disputa pela Bola de Ouro deve considerar performance e resultados em campo. No entanto, as críticas extrapolaram limites. Tentaram macular a idoneidade do evento ao associá-lo à pecha de racista.
Vinicius Júnior também se inflou de indignação e declarou nas redes sociais: “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”. Os protestos que se seguiram nessa linha reforçaram a ideia do “excluído” Vinicius — um milionário que é ídolo de uma potência esportiva —, visto como vítima de preconceito racial.
O influencer Felipe Neto afirmou: “Está mais do que confirmada a perseguição nojenta contra o Vini Jr. Vergonha histórica do futebol. É revoltante demais”. A cantora Ludmilla também esbravejou: “Vini, para mim e para todos que te amam, você é e sempre será campeão. Nós sabemos bem o que é ter que lutar e se entregar 10x mais quando o assunto é nosso trabalho”.
O colunista Rodrigo França, do Metrópoles, assim como uma legião de jornalistas, foi mais um a associar o episódio ao racismo: “O resultado apenas reafirma um padrão histórico de desvalorização dos jogadores negros, sobretudo daqueles que denunciam o racismo de forma aberta e insistente, como Vini Jr. tem feito”.
Pep Guardiola: ‘Por isso o futebol é lindo’
Na luta por justiça e reconhecimento, Vinicius Júnior se engajou na resistência contra o racismo. Enfrenta insultos de torcedores adversários desde 2022. O resultado do prêmio não anula esse esforço, reconhecido pela própria France Football, que em 2023 lhe concedeu o Prêmio Sócrates, dedicado ao melhor trabalho humanitário de futebolista no mundo.
Em 1991, a Fifa inaugurou sua própria premiação e ofuscou a Bola de Ouro. Entre 2010 e 2015, a Fifa e a France Football unificaram o prêmio. Mas, a partir de 2016, a Fifa criou o The Best, enquanto a Bola de Ouro voltou a ser organizada somente pela France Football.
A revolta de Vinicius Júnior por não vencer a Bola de Ouro se assemelha à de uma criança que não recebeu a medalha desejada. Só quem não acompanhou a Eurocopa 2024, vencida pela Espanha, dirá que Rodri não mereceu o prêmio.
Apesar de grandes conquistas pelo Real Madrid, Vinicius não teve um bom desempenho na seleção brasileira, o que é o mais importante. Na última Copa América, decepcionou. Ficou de fora das quartas de final por ter recebido o segundo amarelo. Teve atuações apagadas na primeira fase.
As atuações na seleção têm peso significativo nesse tipo de premiação. As recentes exibições de alto nível de Vinicius na atual Champions, como contra o Borussia Dortmund, não foram contabilizadas para esta edição da premiação, que avaliou o período de agosto de 2023 até julho deste ano.
O concurso, que até pouco tempo atrás tinha pouca relevância no Brasil, é muito mais voltado para a performance em campo. É formado por três critérios: 1) desempenho individual; 2) desempenho e conquistas da equipe; 3) classe e jogo limpo.
Vinicius, para muitos, ainda é um jogador restrito a uma faixa do campo. É um craque com explosão e impressionante capacidade de superar adversários. Mas, em alguns momentos, ainda lhe falta a maturidade da decisão correta.
Já Rodri, nesta temporada, simbolizou em grande parte a evolução do futebol moderno. Desde que o estilo do Barcelona se impôs, a partir de 2006, com um toque de bola rápido e preciso, o chamado jogo posicional ganhou importância e transformou o esquema tático em uma teia a envolver o adversário. A figura do antigo centro-médio, tão bem caracterizada por Rodri, se tornou crucial para o equilíbrio de um time.
Seus passes precisos demonstram equilíbrio. A consciência em campo é sinal de maturidade. E as assistências para gols refletem inteligência e humildade. Demonstra ética em relação aos adversários. A performance na última temporada é outro fator que merece destaque.
Instituída em 1956, a Bola de Ouro já foi entregue a outros craques negros, como Eusébio (1965), Ruud Gullit (1987), George Weah (1995) e Ronaldinho Gaúcho (2005). Desde 1994, o prêmio passou a incluir jogadores não europeus.
Pep Guardiola, técnico de Rodri no Manchester City, também discorda das associações ao racismo. “Vinicius deveria ter vencido? Talvez, mas não foi o que aconteceu”, afirmou o melhor treinador da atualidade. “São os jornalistas, e não um grupo de elite, que decidem isso. É uma opinião de cem jornalistas de diferentes países. Por isso o futebol é lindo.”
O normal e o melhor
Antes de Vinicius Júnior, outros jogadores negros com performances individuais tão boas ou melhores, como Kylian Mbappé e Neymar, também não conquistaram o prêmio. Neymar, alvo de críticas por sua irreverência e posição política, mereceu a Bola de Ouro em pelo menos duas ocasiões. Mesmo com a concorrência de Messi e Cristiano Ronaldo.
Em 2015, ele foi um dos destaques do Barcelona, campeão da Liga dos Campeões, e, em 2020, levou o Paris Saint-Germain à sua primeira final dessa Liga. Apesar disso, não houve alvoroço pelo fato de Neymar não ter conquistado o prêmio. Neymar, aliás, já se rebelou diversas vezes contra ofensas racistas, inclusive a adversários, como Vinicius Júnior fez diante do Barcelona, quando torcedores do Real ofenderam Lamine Yamal.
Esse viés ideológico levou críticos a se sentirem no direito de acusar os contrários de fascistas. Incomodado com isso, o jornalista Valmir Storti, especialista em estatística do futebol e coautor do livro História do Campeonato Paulista, questionou nas redes sociais: “Por que temos tanta dificuldade para aceitar opiniões diferentes das nossas?”. Ele argumenta que, com cem jornalistas de cem países dando suas opiniões, não deveríamos aceitar o resultado de uma votação subjetiva. “Prefiro viver em um mundo de imprensa e jornalistas livres, onde as liberdades individuais são respeitadas.”
Os méritos de Rodri, campeão da Liga dos Campeões em 2023 e tetracampeão da Premier League, não importam para Vinicius Júnior e seus seguidores. Ele e os representantes do Real Madrid não compareceram à premiação. O clube, preocupado com a imagem, incorporou a indignação radical. Mas nunca ordenou a retirada da equipe do campo em situações de racismo contra seu jogador.
O técnico Carlo Ancelotti, antes de mudar o discurso, havia afirmado, em 2022, que “na Espanha não existe esse tipo de racismo”. Mas em 1960 o clube havia dispensado o meia Didi, um dos maiores da história, por “não ter se adaptado ao ambiente”. Ficou apenas alguns meses por lá. Eram outros tempos, mas até hoje existe a suspeita de que houve racismo, apesar de Didi nunca ter confirmado.
Enquanto muitos criticavam Rodri, ele agradecia pela conquista. Antes de ser profissional no Villarreal, cursou administração de empresas. Obteve o diploma já como jogador do Manchester City. Só foi deixar de lado seu Celta quando o convenceram de que as estradas inglesas exigiam um carro mais potente. “O Vinicius é um grande jogador, já demonstrou isso durante vários anos”, elogiou Rodri. “Não posso dizer muito mais do que isso. Ele tem muito pela frente.”
Rodri expressou seu desejo de ser exemplo: “As pessoas não me conhecem tanto nas redes porque sou um cara normal. Quero ser uma pessoa melhor todos os dias. É a minha função em campo “, ressaltou o espanhol. E completou:
“Um menino normal, com valores, que estuda, que tenta fazer as coisas certas e que não dá atenção para os estereótipos do futebol pode chegar alto. Sempre quero dar tudo. É possível ser normal e ser o melhor também.”
Na era da lacração, a mensagem de Rodri é a de que, no esporte e na vida, nem sempre o prêmio vai para o mais popular. Às vezes, vai para quem soube vencer as batalhas. Sem a ansiedade de precisar ganhar todas. Tem muita gente que insiste em não dar bola para isso.
Leia também “Fábricas de campeões”
Só pela declaração final, ele já mereceu a bola de ouro. O mimadinho mimizento milionário que se diz vítima de racismo só anda com mulheres brancas…
Parabéns ao belíssimo texto Eugênio, receba meus aplausos!!!
Não gosto de muitas atitudes do Vinícius Jr, mas admiro sua luta contra os atos racistas. Os espanhóis que o ofendem querem que ele suporte tudo calado, como se fossem seres superiores. Infelizmente, esse mesmo pensamento é compartilhado por muitos dos jornalistas que participaram da votação da bola de ouro, o que certamente influenciou no resultado. É o racismo enrustido nas pessoas.
Torço pelo Vini Jr. Acho que ele é um grande jogador. Mas sempre me desagrada o mimimi. Bradar que seu 2º lugar na disputa pela Bola de Ouro é fruto de racismo é delírio persecutório e enquadra-se na pauta identitária que já se torna cansativa. Ao mesmo tempo considero que se tivesse comparecido ao evento e aceitado com elegância o resultado, Vini teria contribuído mais para o fortalecimento da sua imagem e para sua luta contra o racismo.
Nunca vi tanta imbecilidade a respeito de racismo esse Vinícius faz parte de 0,01% da população, um privilegiadíssimo. Torcida é torcida ofende qualquer jogador, basta ser adversário. Faz como Daniel coma a banana que jogam. “Racismo estrural” “racismo ecológico”.nunca vi tanta idiotice. Vão pro Sudão, Uganda, Quênia… que vocês vão ver a realidade
Não consigo ler o texto! Porque será? Sou assinante.
Para mim é um mala sem alça. Totalmente despreparado. E o Real Madri errou ao apoiar o mimizento ao não comparecer à cerimônia.
Bom texto. Como tenho amigos na Espanha, Inglaterra e Portugal as opiniões são parecidas, com pequenas diferenças. Faz tempo que muita genté é contra o Vini porque entendem que ele é mau caráter e não é pela cor da pele. Ele joga com companheiros negros que não são atacados por atos racistas. E existem outros negros, principalmente africanos que não gostam dele, mas respeitam seu futebol. Esta ideologia está prejucicando a conviência as pessoas de diversas origens, já que estamos vivendo a volta do nazismo e fascidmo contra judeus e cristãos. Pessoas tem vaiado Vini não pela cor, mas pelas suas posturas em campo e fora dele. Ele foi inflado por ideias que não combinam com cidadãos pacatos e até mesmo com aqueles torcedores mais exaltados. Aqui no Brasil já vi criticarem uma pessoa que estava no meio da torcida e a imprensa disse que eram gestos racistas. Chegando na Delegacia o responsável viu que a pessoa era daun e nem sabia o que era pular e imitar macacos. Foi dispensado imediatamente. Os jornalistas que falaram em racismo nem tiveram a coragem de pedir desculpas. Noutra ocasião, um treinador mulato queria para um jogo no interior do RS porq
Nessa eu estou com o Vini Jr., merecia ter ganho, sempre foi assim…o destaque do time campeão da Champions leva o prêmio, mas desta vez foi diferente, por quê??!!! Existe um preconceito contra jogadores que atuam fora da Europa sim senhores!!! A luta dele contra o racismo enraizado naquela região o atrapalhou também, a verdade é essa. Sobre o Rodri, bom, é o melhor volante do mundo na atualidade…mas não é o melhor jogador do mundo, na minha humilde opinião.
Mimi Júnior
Deselegante a postura do Vini e principalmente do Real Madri, futebol é um esporte e sendo assim uma ganha outro aprende e melhora para ganhar na próxima . Simples assim.. Mas infelizmente hoje temos uma geração de jovens mimizentos que se acham acima do bem e do mal , milionário e craque de bola Vini terá muito tempo pela frente ainda e com certeza irá ter muitas conquistas . Por ora , cabe parabenizar o vencedor Rodri e se dedicar mais em campo , para estar na próxima .
Falta humildade pra esse Vinícius junior. Ainda tem muito o que aprender e amadurecer.