Aos 37 anos, o sérvio Novak Djokovic entrou na quadra principal dos Jogos de Paris, uma espécie de templo do esporte onde se disputa o torneio de Roland Garros, como o tenista mais vitorioso em atividade no mundo. A coleção de títulos, troféus e recordes é tamanha que torna qualquer parágrafo extenso demais (veja o quadro mais adiante). Mas faltava uma conquista: a medalha de ouro — que chegou no domingo, ironicamente numa edição olímpica marcada por tudo aquilo que ele não representa.
Djokovic derrotou o espanhol Carlos Alcaraz, 16 anos mais novo, prodígio da nova geração do circuito, por 2 sets a 0. Ocorre que havia mais coisas em jogo naquele piso de saibro por causa de toda a patrulha do politicamente correto — ou woke, ou esquerda progressista moderna, entre outras denominações. Tanto faz. Dentro e fora das quadras, ele é uma espécie de antítese ao recado que a cerimônia de abertura da competição transmitiu — a qual será lembrada pelo deboche dos valores judaico-cristãos.
Há cerca de quatro anos, “Djoko” ou “Nole” é perseguido por boa parte da imprensa e pelos burocratas de confederações porque não se vacinou contra a covid-19. Foi proibido de disputar torneios importantes, como o US Open, e chegou a ser deportado da Austrália. Também se recusou a obedecer à proibição do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre manifestações religiosas em quadra — cristão, ele não só faz o sinal da cruz durante os jogos, como carrega um crucifixo no peito. Ao vencer suas disputas, costuma comemorar nos braços da família, que o acompanha na arquibancada, e defender a imagem do seu país — é extremamente patriota.
No começo de 2022, o episódio australiano foi o mais simbólico da carreira porque o atleta é ídolo no país e foi lá onde ganhou mais títulos importantes — venceu dez vezes o Australian Open. À época, o mundo vivia um dos picos de histeria da covid-19. O tenista foi detido ao desembarcar em Melbourne e precisou ficar isolado num quarto de hotel por dez dias até ser deportado porque não tinha a carteirinha da vacina. O Tribunal Federal da Austrália, o equivalente ao Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, cancelou seu visto até 2025, mas a punição foi anulada no ano passado.
Os vetos deixaram o atleta de fora de algumas competições, mas não impediram que sua galeria de troféus o colocasse entre os maiores da história: além dele, só Andre Agassi (EUA) e Rafael Nadal (Espanha) ganharam tudo o que é possível. Djokovic, porém, foi quem passou mais tempo como número 1 do ranking até hoje (428 semanas). Além do ouro olímpico, o sérvio faturou 24 torneios Grand Slam (Roland Garros, US Open, Australian Open e Wimbledon), as nove etapas do Masters Series 1000, a Copa Davis e o ATP Finals.
Financeiramente, apesar da resistência de algumas marcas por causa da agenda woke mundial, ele encabeça outro ranking: superou US$ 180 milhões em premiações — obtidos somente com a sua raquete, sem campanhas publicitárias. As principais patrocinadoras são a Lacoste, os tênis Asics e a raquete customizada Head. Com a mulher, ele mantém uma fundação para ajudar crianças. Tem também uma holding familiar que gerencia outros negócios sem alarde — franquias de hotéis, cafés, restaurantes e uma vinícola.
O triunfo olímpico na Quadra Philippe Chatrier ainda teve um elemento de superação física, porque o atleta retornava de uma cirurgia no joelho direito — ele praticamente não jogou neste ano por causa da lesão. Para muitos críticos de tênis, a alta performance aos 37 anos, depois de operar o joelho, faz dele um fenômeno clínico — algumas revistas especializadas escreveram que o ouro em Paris o alçou ao patamar de maior de todos os tempos, opinião compactuada até mesmo pelo rival espanhol Rafael Nadal.
“Os números dizem que ele é o melhor da história”, disse Nadal ao programa El Objetivo, do seu país. “Para mim, pelo que tenho visto, é ele. Nunca tive problema de ego para dizer as coisas que sinto. Podemos dizer que já me machuquei mais vezes, mas ele tem um físico melhor.”
O mesmo pôde ser ouvido de outras lendas das quadras, como Andre Agassi e demais medalhistas olímpicos. “Existem muitas maneiras de ver as coisas, mas, quando se olha para elas no papel, não se pode contestar o que ele alcançou”, disse Agassi, hoje com 53 anos, em entrevista ao jornal The Australian. “O número de vitórias, confrontos diretos, títulos, as tantas vezes em que foi número 1 do mundo no final do ano. São estatísticas.”
“Acho que esta foi a melhor final possível sob as circunstâncias de todo o torneio olímpico: Alcaraz e Novak — o maior de todos os tempos, contra um jogador que pode potencialmente desafiar os grandes recordes”, afirmou o russo Yevgeny Kafelnikov, medalhista de ouro nos Jogos de Sydney 2000, ao Tennis Majors. “Todos sabíamos que era a única coisa que faltava na carreira de Novak.”
Líder, com personalidade difícil
Mesmo no topo do pódio, Djokovic voltou a ser criticado depois do feito de domingo. De um lado, reapareceu a polícia da pandemia, especialmente os jornalistas esportivos brasileiros, cuja cabeça parou naqueles tempos dos placares macabros de mortos exibidos durante as transmissões na TV. A cada competição desde 2020, a impressão que resta é de que muitos comentaristas nunca mais conseguiram sair daquele lugar.
Mas não foi só o “negacionista da covid” que reapareceu no noticiário. O sérvio frequentemente é criticado pela personalidade forte — principalmente pelas reações explosivas. Não é raro vê-lo arrebentar a raquete depois de falhar num ponto decisivo ou ao se irritar com a arbitragem e a torcida.
O próprio Rafael Nadal já entrou em cena mais de uma vez para defendê-lo publicamente. “Ele é uma boa pessoa, com todos os seus defeitos”, disse o espanhol. “Mas é muito melhor do que parece. A frustração de Novak dura o momento de quebrar a raquete, aí ele está mais uma vez pronto para competir a 100%. É por isso que é quem mais venceu em toda a história do nosso esporte.”
Também foi comparado recentemente pela mídia ao piloto Ayrton Senna, porque, a exemplo do que o brasileiro fazia na Fórmula 1, ele assumiu a frente das queixas dos atletas contra a Associação de Tenistas Profissionais (ATP). “Há uns 400 tenistas que podem viver do tênis. É um dado muito pobre para um esporte tão global como o nosso”, disse. “Eu tenho influência e poder, quero aproveitá-los para melhorar as condições.”
Num brilhante artigo dedicado ao tenista, no ano passado, a agência de notícias francesa France-Presse escreveu: “Ele tem tudo para ser um ídolo: é afável, respeitoso, disponível, engraçado, patriota, bom pai de família, inteligente, educado. Mas é uma pessoa de convicções muito firmes, e isso gera controvérsias”. O texto conclui: “Para uma parte do público, pode soar como arrogância”.
O fato é que, incrivelmente, aos 37 anos Djokovic ainda está na melhor forma física. Nascido em Belgrado, passava o dia numa quadra de tênis porque a escola estava fechada durante a guerra de Kosovo. Dormia num abrigo antiaéreo e acordava para treinar com determinação. Sempre deixou claro que é necessário se preparar melhor do que os demais para se tornar um campeão ilimitado — da alimentação aos estudos (dá entrevistas em seis línguas), da nanotecnologia que monitora seu desempenho ao treinamento para manter o foco. Certa vez, ao ser questionado sobre o dispositivo que usa preso ao peito para registrar as variações do corpo, respondeu: “É porque, quando criança, eu queria ser o Homem de Ferro”.
Goste-se ou não dos seus rompantes, pouco importa: a principal qualidade de Novak Djokovic é que ele se tornou melhor do que os outros no que faz.
Leia também “A celebração da derrota”
Excelente artigo. !!!
Silvio, o livro – O Melhor de Oeste – autografado por você tem lugar reservado na minha estante e será leitura dos meus netos hoje com 4 e 7 anos para entenderem o que o país e o mundo viveram neste tempos esquisitos.
Este artigo esclarecedor mostrando aos leitores quem é Djokovic, demonstra ser o atleta em nível mundial que mais sofreu perseguições por suas posições políticas.
Aqueles que não se curvam recebem as recompensas e a admiração do mundo.
Esse André Rizek é mais um fantoche da empatia. Posando para satisfazer a sua emissora, que recebe gordas verbas públicas para pagar seus ganhos. Semelhante ao mau caráter narrador Luis Roberto, aquele que deu chilique porque o SBT venceu a disputa para transmitir uma competição, e ele fingindo ser algo relativo a pandemia para criticar.
Rizek além de toda sua imbecolidade, é casado com outra militante da globo, Andrea Sadi, uma total desgraça para o jornalismo político e esportivo.
Excelente artigo Silvio !
Artigo excelente.
Parabéns
Obrigado, João!
Navarro, seus textos como sempre, são fantásticos. Lamento que as pessoas que mais poderiam ter acesso à Revista Oeste não podem. Isso por vários motivos, a grande maioria dos brasileiros não leem, especialmente a maioria dos estudantes(sou professora e tenho conhecimento da causa), além de não terem condições de comprar livros, embora tenham acesso à internete, mas a leitura não importa para eles. Outro fator determinante para isso é se deixarem influenciar pelas pseudo notícias da TV aberta e pela influência de professores esquerdistas.
Obrigado pela mensagem, Simone! Eu concordo com a sua avaliação.
Muito adequado, salutar e auspicioso ele ressaltar seus valores religiosos.
Queira sim, queira não a vida somente se perfaz em grandezas e nobrezas pela excelsa presença do Senhor dos Mundos 🌎.
É o protótipo da meritocracia. Talvez por isso os idiotas úteis do mundo woke não gostam dele.
Um ser humano incrível, dentro e fora das quadras!
Parabéns Silvio. .Um atleta corajoso e de muita personalidade. Um vencedor.
No momento ele é o melhor indiscutivelmente, pode ser superado no futuro? Sim, porque não, mas o melhor dele é fora de quadra, alguém que superou muitas dificuldades e chegou no topo, seus principais adversários tiveram vida muito mais fácil.
Tem meu total respeito, admiração e torcida, enquanto estiver em quadra vou torcer por ele!
O Brasil está precisando de personagens igual a esse atleta!
Magistral