A volta do anão

O Brasil apequenou-se com as desastradas declarações de seu presidente, na última viagem à África. Falta de tato, de diplomacia, de respeito à história, de fidelidade aos fatos. Por causa de Lula, podemos perder um essencial fornecedor de avanços científicos. Brasil e Israel estão a um passo de rompimento de relações. O Presidente Lula chamou de volta o embaixador do Brasil em Tel-Aviv, e isso tem um significado dramático. Antes, o premiê Benjamin Netanyahu mandou dar uma reprimenda no embaixador brasileiro Frederico Meyer — e ela foi feita significativamente no Museu do Holocausto, para que o governo do Brasil soubesse o que foi Hitler e o genocídio que se chamou de Holocausto. O embaixador foi informado por Israel Katz, ministro das Relações Exteriores de Israel, de que Lula é persona non grata em Israel. Depois, mostrou uma brasileira que sobreviveu ao massacre e queixou-se de que a embaixada não se interessou em saber o que havia acontecido. Até hoje há um refém brasileiro, Michel Nisenbaum, nascido em Niterói há 59 anos. Lula não se preocupou com ele, mesmo podendo apelar aos seus amigos do Hamas. Milei, quando esteve em Tel-Aviv, ganhou dias depois a liberação, pelas Forças de Israel, de dois reféns argentinos, de 60 e 70 anos. 

Aqui, o ministro Mauro Vieira convocou o embaixador de Israel, sediado em Brasília, para uma conversa na antiga sede do Itamaraty, no Rio, onde o chanceler estava — completando o revide. O atual governo nunca gostou do embaixador Daniel Zonshine, porque ele tem boas relações com o ex-presidente Bolsonaro. O ex-chanceler Celso Amorim, que rege com Lula a política externa, chamou a reação de Israel de absurda, disse que Lula não vai se retratar, e radicalizou: “Quem é persona non grata é Israel”. Celso Amorim, quando ministro das Relações Exteriores de Lula, permitiu que o legalmente deposto presidente de Honduras, Manuel Zelaya, usasse a embaixada do Brasil em Tegucigalpa como diretório político, além de asilo.

Tudo isso choca os brasileiros. A maioria de nós é produto de cultura originária nas religiões judaico-cristãs. A história do povo de Israel está nas nossas raízes religiosas. Judeus e árabes misturaram seus genes e suor na formação da nação brasileira. Foi um brasileiro, Osvaldo Aranha, que, presidindo a Assembleia da ONU, pôs em decisiva votação no exato dia em que percebeu quórum favorável a Resolução 181, promovendo a divisão da Palestina em um Estado árabe e outro judeu, o que ensejou, no ano seguinte, 1948, a criação do Estado de Israel, que voltou a abrigar judeus que as perseguições dispersaram pelo mundo. O genocídio praticado pelo nazismo solidificou nos judeus a convicção de “Holocausto nunca mais”. Na gigantesca manifestação do 7 de Setembro de 2022, bandeiras de Israel tremulavam na Esplanada, em Brasília.

O presidente Lula, chefe da política externa, desde que assumiu, revelou suas preferências internacionais. No primeiro mês, autorizou dois navios de guerra do Irã a aportarem no Rio de Janeiro, contrariando os Estados Unidos. No primeiro ano, tentou impor aos presidentes latino-americanos o ditador Maduro, provocando repúdio até do esquerdista chileno Gabriel Boric. Sempre silenciou sobre as agressões às liberdades e à democracia perpetradas em Cuba, Nicarágua e Venezuela. Quando o Hamas atacou kibbutzim no sul de Israel, assassinando, torturando e sequestrando, em 7 de outubro, Lula repudiou o terrorismo sem citar o Hamas e acrescentou que não pouparia esforços para evitar uma escalada do conflito — isto é, evitar a previsível reação de Israel. Quando apareceu morto em prisão russa o opositor Navalny, e o mundo ocidental responsabilizava Putin, Lula o defendeu: “Para que essa pressa de acusar alguém?”. São as preferências. As injustas afirmações sobre Israel foram aplaudidas pelos chefes de governo da Nicarágua, Cuba, Venezuela, Colômbia e Bolívia — além do Hamas, é claro.

No Museu do Holocausto, o ministro Israel Katz disse ao embaixador brasileiro que as palavras de Lula foram “severamente antissemitas”. Por causa disso, Lula, finalmente, ganhou projeção internacional, e Celso Amorim ufana-se: “Sacudiu o mundo!”

Lula criticou os países que cortaram auxílio para a agência da ONU que recebe assistência para Gaza, usada por infiltrados do Hamas. Com isso, afastou-se de 17 países ocidentais, entre eles os Estados Unidos e a Alemanha, que já repudiaram a fala do brasileiro. No front interno, foi protocolado pedido de impeachment com assinaturas de 140 deputados — quase 30% da Câmara —, mas não vai dar em nada, apesar da conotação racista do antissemitismo embutido nas constantes posições de Lula contra Israel. O presidente do Senado disse que espera de Lula retratação, explicações e desculpas a Israel. Tudo isso significa desgaste que vai se somar a outros, provocados por declarações desastradas, o que enfraquece a já instável posição do governo no mais poderoso dos Poderes, que é o Congresso.

Para os israelenses, foi uma blasfêmia Lula comparar a ação de Israel em Gaza ao genocídio de Hitler contra os judeus. Lula chegou a dizer que Israel, para matar mulheres e crianças palestinas, usa o pretexto de combater o Hamas. Netanyahu afirmou que Lula cruzou a linha vermelha com palavras vergonhosas e graves, e que banalizou o Holocausto e o direito de Israel de se defender. No Museu do Holocausto, o ministro Israel Katz disse ao embaixador brasileiro que as palavras de Lula foram “severamente antissemitas”. Por causa disso, Lula, finalmente, ganhou projeção internacional, e Celso Amorim ufana-se: “Sacudiu o mundo!”. A propósito, em 2014, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, chamou o Brasil de “anão diplomático”. O anão está de volta.

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