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Ilustração: Shutterstock
Edição 201

Racismo reverso

Parece inegável que a ideologia woke está criando vitimização de um lado e preconceito do outro, ao dividir todos entre oprimidos e opressores

Rodrigo Constantino
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A “diversidade, equidade e inclusão” (DEI) tem estado no centro das discussões entre vários grupos, desde políticos até ativistas sociais. Recentemente, o assunto ganhou maior destaque, pois os bilionários agora entraram no debate.

Elon Musk, o CEO da Tesla, recorreu à sua plataforma de mídia social X, antigo Twitter, em 3 de janeiro para condenar a DEI depois que o bilionário Bill Ackman escreveu um ensaio dizendo que a prática poderia levar ao “racismo” contra os brancos. “DEI é apenas mais uma palavra para racismo”, escreveu Musk. “Que vergonha para quem usa”, acrescentou.

A postagem causou polêmica e gerou críticas do empresário bilionário Mark Cuban, que respondeu afirmando em uma postagem no X que o DEI é bom para os negócios: “Você pode não concordar, mas considero um dado adquirido que existem pessoas de várias raças, etnias, orientações… que são regularmente excluídas da contratação”. Cuban continuou: “Ao ampliar nossa busca de contratação para incluí-los, podemos encontrar pessoas mais qualificadas. A perda de empresas com fobia de DEI é meu ganho”.

Quem está certo nesse debate? Acredito que Elon Musk e Bill Ackman estejam mais perto da verdade do que Mark Cuban e toda a patota woke. Ninguém precisa negar a existência do racismo, por exemplo, para concordar que cotas raciais podem, muitas vezes, fomentar o mal que pretende erradicar, ao segregar a população com base na “raça” e reforçar justamente o conceito que desejava combater. Creio que o mesmo acontece com a DEI.

Foto: Robert Kneschke/Shutterstock

Podemos aceitar a premissa: departamentos de RH, ainda que de forma inconsciente, priorizam certas características na hora de contratar alguém, e grupos minoritários acabam prejudicados. Mesmo partindo dessa premissa, não há qualquer prova de que uma política como a DEI vai aliviar o quadro. Parece inegável que a ideologia woke está criando vitimização de um lado e preconceito do outro. Ao dividir todos entre oprimidos e opressores, tal como faziam os marxistas, essa mentalidade acaba fomentando o “racismo reverso”. Afinal, os brancos (e judeus) são sempre “opressores”.

O simples fato de que a turma woke tenta sempre negar a existência do racismo reverso mostra como ela é perigosa. Para essa turma, odiar brancos não é racismo, pois os brancos… são terríveis mesmo! Há uma justificativa inspirada em Marcuse para ser intolerante com os “fascistas”, e, ao definir como fascista um grupo com base na “raça”, claro que isso vai gerar racismo. Basta ver os excessos de um movimento como o Black Lives Matter para ilustrar o perigo.

O grande problema que vejo na DEI está já em sua premissa: a diversidade com base na “raça”, ou no “gênero”, enquanto a verdadeira diversidade relevante para os negócios está em aspectos culturais, perfis individuais, características que independem dessa divisão forçada. Ao criar grupos identitários e assumir que essa é a divisão importante, a ideologia woke já segrega com base num preconceito. O óbvio precisa ser lembrado: há negros honestos e negros desonestos, assim como há mulheres competentes e mulheres incompetentes, e por aí vai. Indivíduos importam, mas, para a ideologia woke por trás da DEI, não.

A palavra-chave no capitalismo, e crucial para seu sucesso, é meritocracia. É por substituir a meritocracia que a DEI é tão criticada por Elon Musk e outros. Quando se assume que o próprio sucesso é prova de uma estrutura racista das “elites brancas”, então o único resultado possível será o “racismo reverso”, o “ódio do bem”, a revolta permitida contra essa “raça”. E isso vai sempre ignorar a enorme quantidade de minorias bem-sucedidas, especialmente na América livre, assim como homens brancos em situação crítica. A conta não fecha.

Ilustração: Shutterstock

A DEI, na prática, acaba sendo então um instrumento para certas pessoas pegarem atalhos para o sucesso. Quando a própria meritocracia passa a ser vista como mecanismo das elites brancas, quando até a matemática é analisada por uma ótica ideológica, quando cada tentativa de mensurar objetivamente a contribuição individual ao coletivo é tratada com desconfiança, então só resta mesmo uma seleção artificial com base no conceito identitário.

Só haverá “justiça”, por esse raciocínio, se o resultado for mais… equitativo. E isso dentro da visão preconcebida da ideologia woke. Se não houver um número maior de negros ou trans numa empresa, isso já seria prova de racismo como causa desse resultado desigual. Claro que quem conclui isso olhando as grandes empresas do S&P não faz o mesmo tipo de inferência acerca da quantidade de brancos na NBA ou na NFL. Ali pode haver desigualdade, pois é “do bem”.

A SpaceX criou foguete que anda de ré e é responsável por cerca de 90% de todos os lançamentos comerciais ao espaço. Alguém acha mesmo que Musk precisa de lições sobre quem contratar para suas empresas?

Não há nada mais inclusivo do que o livre mercado. Qualquer um pode dele participar, seja como consumidor, seja como trabalhador ou empreendedor. Só no capitalismo há mobilidade social. E tudo isso sempre com base na meritocracia. A falácia de Mark Cuban se torna evidente para quem entende o mecanismo do mercado: se realmente há preconceito na seleção de empregados, e as empresas deixam de fora minorias só por isso, então ele teria mesmo ganhos por não ser preconceituoso e contratar essas minorias com mesma produtividade e ignoradas pelos concorrentes. Mas, se fosse esse o caso, ele não precisaria de políticas DEI: bastaria ele seguir de forma imparcial o conceito de meritocracia e pronto.

Elon Musk criou empresas de enorme sucesso em diferentes áreas. A Tesla desbancou todas as demais montadoras automotivas estabelecidas. A SpaceX criou foguete que anda de ré e é responsável por cerca de 90% de todos os lançamentos comerciais ao espaço. Alguém acha mesmo que Musk precisa de lições sobre quem contratar para suas empresas? Alguém se sentiria mais seguro se uma empresa aérea, em vez de contratar os melhores pilotos possíveis, passasse a levar em conta a DEI e enchesse o cockpit de gente trans, em nome da suposta equidade?

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7 comentários
  1. Jorge
    Jorge

    Todas as cores são ilusões de ótica, as pessoas foram para a escola e não aprenderam isso ?
    Que triste!
    Já expliquei para minha amiga, que meus olhos não são verdadeiramente como parecem, cor de mel, com contornos verdes e azuis, tudo isso não passa do reflexo da luz branca, sobre esses pigmentos que insistem em dizer: Não somos o que vocês estão vendo! Na realidade última, somos o contrário disso! E aquele marrom, que brilha com um tom azul, que vem da luz branca então? A beleza das cores depende da luz branca, cuja cor original, só é bonita na frente da luz negra!
    Feitas as apresentações devidas, só nos resta apreciar a riqueza das etnias, são tantas!
    Ficar militando por causa do reflexo da luz branca, é coisa de mariposa!
    Passou da hora de acordar !

  2. Roberto C Faria
    Roberto C Faria

    Bem, é preciso estabelecer cotas para caucasianos e orientais nos esportes em geral ! Equidade ! Não importa que os negros sejam melhores em quase todos! É a DEI ignorada pelos wokes…

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Constantino é um homem preparado em economia e sabe muito bem que essa cultura woke não funciona no capitalismo e só existe esse sistema para o desenvolvimento, o outro sistema é socialista que imperra e só causa retrocesso

  4. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Modestemente tenho trabalhado em pesquisa sobre o petrimônio cultural que é a miscigenação. No último censo foi provado que a maioriia da população não é branca nem parda. Os “pardos” tem variações, pois depende de como foram os casamentos interétnicos de sua ancestalidade recente ou distante. Existem os pardos bem negros, escuros, escurinhos, cor de cuia, morenos com olhos verdes ou azuis, negrões, sararás, parda com pele clara, cabelo pixainho, cabelo ruim, cabelo liso natural, encaracolado natural e os modernos carecas. Se olharmos o branco, também existem variações. Existem povos nórdicos em que seu dna existe 0% de ancestralidade africana (como alguns chineses) e isto faz pensar se a a África realmente é a mãe da humanidade (como a origem dos índios norteamericanos ou canadenses). Como os brancos, existe uma “mistura” bem interessante até os dias de hoje mesmo aqui no Brasil. Com os negros acontece a mesma coisa: a sua origem geográfica diversa mostra que seus ancestrais tinham culturas diferentes e até físico diferente; nem tudo na África é padrão homogêneo. O continente africano tem até judeu negro (Etiópia) e os petistas também querem a destruição destes personagens cristãos africanos. O assunto é muit ocomplexo para amadores. Existe-se uma performance científica sensível, humanista e destravada de ideologias impuras. E mudando para outras variáveis: se continuar assim, então teremos grupos que não permitirão negros casando com brancos para apurar melhor a “raça”? Diminuirá então a população “parda”? O chamado pertencimento funciona em plataforma muito personalíssimas e que poderá ser influenciada pela moda e politicagem, dom divisões que acarretam violência moral e física. E nem todos os pardos tem a mesma origem africana e ficam surpresos quando sua árvore genealógica secular chega a algum escocês da época da época do Rei Duncan, ou do Ertugral, herói turco que teve descendentes bizantinas casadas com romanos… Tudo loiro de olhos azuis… Assim, caro Rei Constantino, tu tens o dom de intimar as pessoas a pensar no outro lado da moeda.

    1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
      Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

      Interessante.

  5. Mario Luiz Venditi
    Mario Luiz Venditi

    Adoraria te contradizer…. mas, como sempre, concordo plenamente com sua análise. Parabéns

  6. Rafael Lima Bechtlufft
    Rafael Lima Bechtlufft

    Excelente, Consta! Por mais leitores de Thomas Sowell!

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