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O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva | Foto: Adriana Spaca/Framephoto/Estadão Conteúdo
Edição 111

Lula versão 89

Ex-presidente recorre a repertório político atrasado, assusta aliados e causa incêndio dentro do próprio PT

Silvio Navarro
Cristyan Costa
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Existe um grande mistério na campanha presidencial deste ano: quem são e onde estão os cerca de 40% dos eleitores de Lula, segundo as pesquisas? Disposto a provar que sua popularidade não é uma invenção do consórcio da imprensa, o petista decidiu comparecer ao mais tradicional evento da esquerda a céu aberto: a festa do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, em São Paulo. Foi um desastre.

O PT montou um palco enorme na Praça Charles Miller, onde funciona o estacionamento do Estádio do Pacaembu. As centrais sindicais espalharam balões de gás e levaram brindes. Os principais líderes da esquerda, como Guilherme Boulos (Psol) e Fernando Haddad (PT), circularam com desenvoltura. Até José Dirceu, que há anos não era visto nas ruas, apareceu com uma camiseta do Corinthians e uma faixa na testa: “Sou Lula”.

No palco, artistas se apresentaram num típico “showmício” da década de 1990, com pedidos de votos — hoje são proibidos por lei. O vereador Eduardo Suplicy (PT) resolveu relembrar os tempos em que cantava Blowing in the Wind, canção de Bob Dylan, na tribuna do Senado.

Entre uma música e outra, o locutor do festival anunciava: “O presidente vem aí!”, respondido com o coro de “Fora Bolsonaro!”. A programação da festa atrasou três horas até que Lula desse as caras. O motivo: faltava um elemento fundamental naquela tarde. Apesar de todo o esforço, o público não apareceu (veja abaixo imagens aéreas da Polícia Militar).

Para piorar a situação, o show mais esperado do dia, da cantora Daniela Mercury, causou ainda mais estrago. Cabo eleitoral de Lula, ela fez um discurso explícito pedindo votos. E emendou dizendo que nunca havia recebido dinheiro público para suas apresentações.

Na última terça-feira, 3, a edição do Diário Oficial do município informou que a participação de Daniela custou R$ 100 mil ao bolso dos paulistanos. O dinheiro saiu do caixa da prefeitura, que mal consegue cuidar da zeladoria de uma metrópole em frangalhos.

De acordo com a Resolução 23.674/2021, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedidos de voto ou atos que caracterizem campanha só podem ocorrer a partir de 16 de agosto.

“Se houve pedido expresso de voto por parte de Daniela Mercury, trata-se de propaganda eleitoral antecipada”, afirma o advogado Alberto Rollo, especialista em Direito Eleitoral. “Quem pratica essa ilegalidade está sujeito a multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil.”

A Lei Eleitoral proíbe campanha em eventos patrocinados por dinheiro público. A prefeitura paulistana já tinha uma resposta na manga para se livrar de punição: os recursos teriam sido destinados à festa das centrais sindicais e não seria possível prever que alguém pediria votos a Lula.

Não pegou nada bem. Nesta quinta-feira, 5, contudo, a Controladoria-Geral de São Paulo suspendeu o pagamento até a “apuração dos fatos e eventuais responsabilidades funcionais e empresariais”.

Incontinência verbal

Lula subiu ao palco ao lado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Fez um discurso de 15 minutos, que pode ser considerado breve para os seus padrões. A fala começou com um pedido de desculpas. No dia anterior, ele dissera que “Bolsonaro não gosta de gente, mas de polícia”. A declaração caiu como uma bomba nas redes sociais. Mas não foi a única desde que voltou a se arriscar em público.

A incontinência verbal tem sido criticada com frequência por aliados — em alguns casos, abertamente. Foi o que aconteceu na quarta-feira 4, durante a celebração da aliança com o Solidariedade. O líder do partido, Paulinho da Força, que é sindicalista, pediu que Lula parasse de defender a revogação da reforma trabalhista.

“Temos perdido tempo com algumas coisas: uma vaia ali, a Internacional Socialista ali, uma reforma trabalhista”, disse Paulinho. A referência à Internacional Socialista é simbólica. O hino esquerdista, que nem a mais antiga vitrola comunista reconhece, foi entoado em evento do PSB neste mês.

“Até brinquei com o Marcelo Ramos (vice-presidente da Câmara). Esquece essa história de reforma trabalhista. Ganha a eleição que resolvemos isso dentro da Câmara em dois meses”, afirmou Paulinho. “Isso é besteira, essa história de revogar só joga água contra o nosso moinho.”

O próprio Lula já se queixou da ausência de alguns nomes em aparições recentes. Um exemplo foi Marina Silva, que não foi ao ato da Rede em apoio à candidatura do petista. Outros parlamentares novatos que se destacaram na mídia também têm evitado o contato direto. Tanto que foram convocados para cuidar da agenda e do programa de governo figuras jurássicas da sigla, como Luiz Dulci, Paulo Okamoto e Aloizio Mercadante.

O tesoureiro será o deputado sergipano Márcio Macedo, que assumiu as finanças do PT quando João Vaccari Neto foi preso. Lula, contudo, queria a volta do seu homem de confiança no posto, José De Fillipi Júnior, mas ele não topou largar a prefeitura de Diadema.

A falta que um marqueteiro faz

No final de semana passado, a desastrosa menção de Lula aos policiais foi tema de conversas em grupos de WhatsApp que reúnem marqueteiros de campanhas petistas e jornalistas. Os principais incomodados são os profissionais que vão trabalhar na campanha de Fernando Haddad para o governo de São Paulo.

Essa ala defende a ideia de que o repertório deveria ser parecido com o que o conduziu duas vezes ao Palácio do Planalto — sem o rancor adotado desde o pronunciamento na saída da carceragem em Curitiba, em 2019. Esses aliados argumentam que a resistência do eleitorado paulista ao PT está crescendo, segundo pesquisas. Outro detalhe: o petista vai enfrentar dois adversários de perfil moderado, o ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas e o atual governador, Rodrigo Garcia. O tucano, aliás, tenta a todo custo se distanciar de João Doria.

A briga interna na comunicação do PT opõe dois nomes: o responsável pela área no partido, Jilmar Tatto, e o ex-ministro Franklin Martins, chamado para ajudar na campanha. Tatto conseguiu demitir recentemente a empresa do marqueteiro Augusto Fonseca, que estava produzindo as primeiras peças de TV. Fonseca é amigo de Franklin, defensor da linha mais agressiva.

O favorito para assumir o posto é Sidônio Pereira, que fez a campanha de Haddad em 2018. Ele é ligado ao senador baiano Jaques Wagner e tem a preferência de Gleisi. Seria uma tentativa de suavizar o tom. Há, contudo, um último e decisivo fator nessa equação: Lula recusa qualquer comando. Ele não ouve ninguém.

Jogo dos 7 erros

A sequência de barbeiragens nos discursos é grande. O petista já defendeu o direito ao aborto, assunto que causa curto-circuito no eleitorado evangélico e católico. E disse que a classe média “ostenta demais”.

Para agradar a Guilherme Boulos e à militância do Psol nas universidades, disse recentemente que pretende trabalhar para criar uma moeda única na América Latina. A fala empoeirada ainda conseguiu misturar, em pouco mais de 30 segundos, a ideia de recuperar os Brics (grupo de países de mercados emergentes), o fechamento dos clubes de tiro e o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Sobre a guerra no Leste Europeu, aliás, afirmou há pouco tempo que a resolveria bebendo cerveja numa mesa de bar. “Até acabar (sic) as garrafas, sairia o acordo de paz”, disse Lula, segundo vídeo reproduzido pela embaixatriz ucraniana, Fabiana Tronenko, no Instagram.

 

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Ainda não se sabe o efeito real das falas de Lula na campanha deste ano. Oficialmente, ela nem começou. Tampouco as oscilações nas pesquisas podem ser levadas muito a sério por nenhum dos candidatos. Mas é fato que o petista tem se inspirado cada vez mais nas três vezes em que perdeu as eleições.

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Leia também “Fala mais, Lula!”

24 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Muito bom artigo. Parabéns aos autores. Agora porque esse Aborto do Súcubo, latrina em forma humana não morre logo e nos livra de sua presença nefasta. Vá para o inferno desgraça.

    1. Cristyan Costa

      Obrigado, Robson. Abração

  2. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    O ex-presidiário está senil.

  3. Gilson Herz
    Gilson Herz

    Parabéns pela matéria. O povo tem que ler esse tipo de matéria para acordar e cair na realidade. Um lixo da história desse País.

    1. Silvio Navarro

      Obrigado, Gilson! Abs

  4. Silvio T Correa
    Silvio T Correa

    Parabéns, Silvio Navarro.
    Esta matéria deveria estar aberta no Twitter e no Facebook. Todos precisariam lê-la.

    1. Silvio Navarro

      Obrigado, Silvio!

  5. Francisco de Assis Bonfati
    Francisco de Assis Bonfati

    Moral da história:
    Querido se beber não faça discurso!!
    Eita *orra só rindo mesmo!!

  6. Júlio Rodrigues Neto
    Júlio Rodrigues Neto

    FIM DE LINHA. Melancólico fim de carreira. 🍔👹

    1. Edson Carlos de Almeida
      Edson Carlos de Almeida

      Esse batedor de carteira,ainda vai pedir penico !

  7. Thompson Fernandes Mariz
    Thompson Fernandes Mariz

    Eu quero mais é que ele continue falando. Quanto mais ele fala, mais sandices profere. #LulaNuncaMais.

  8. JOSE FERNANDO CHAIM
    JOSE FERNANDO CHAIM

    LULA ACHA QUE ESTÁ EM 1980, COM ESSA CONVERSA FIADA E PROMESSAS IMPOSSÍVEIS!!! VISIVELMENTE DOENTE DA ALMA E DO ESPÍRITO, ESSE SUJEITO AINDA CONSEGUE SER SEGUIDO POR OUTROS DOENTES!!!

  9. Célio Andrade Jr
    Célio Andrade Jr

    #LulaNaCadeia! É criminoso condenado em três Instâncias. O ladrão só está solto porque tem capachos no STF que limparam sua ficha imunda para o bandido disputar eleição. Só retardados e cúmplices da roubalheira petista ainda apoiam esse meliante!

  10. NEY WILDE NEPOMUCENO COSTA
    NEY WILDE NEPOMUCENO COSTA

    Continuo tendo que informar e-mail e senha toda vez que tento acessar a edição da revista. E não adianta salvar a página da revista em minha área de trabalho conforme orientação recebida. Não funciona.

    1. Antonio Raimundo da Silveira
      Antonio Raimundo da Silveira

      Acontece o mesmo comigo. Já reclamei e nada foi feito. É estressante. Quando vencer a assinatura, não a renovarei.

    2. Gloria Dressler Boelter
      Gloria Dressler Boelter

      Verdade. É um saco.

      1. Antônio Cesar Bortoletto
        Antônio Cesar Bortoletto

        Eu também já estou cansado de digitar meus 3

      2. Antônio Cesar Bortoletto
        Antônio Cesar Bortoletto

        Meus dados

  11. Paulo gusson
    Paulo gusson

    ACREDITO QUE ESSE LADRAO CAIRA FORA DAS ELEICOES, SUAS MENTIRAS JA NAO FAZEM EFEITO PRO ESSE CANALHA , E O FIM DESSE BANDIDO .

    1. Silvio T Correa
      Silvio T Correa

      Parabéns, Navarro.
      Essa matéria deveria estar aberta no Facebook e no Twitter. Todas precisariam lê-lá.

  12. Ju T M P
    Ju T M P

    Kkkk continue falando Lula!!!

  13. Osvaldo Nogueira
    Osvaldo Nogueira

    AINDA DÃO OUVIDOS PARA ESSE LIXO AMBULANTE.

  14. VALDINEI DE SOUZA BRITO
    VALDINEI DE SOUZA BRITO

    NÃO CONSIGO O ACESSO MESMO SENDO ASSINANTE

    1. Assinaturas Oeste
      Assinaturas Oeste

      Valdinei, boa tarde! Encaminhamos uma mensagem em seu e-mail informando novas credenciais de acesso. Dessa forma, sua experiência no site da Oeste será completa.

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