Os irmãos Liam e Noel Gallagher dormiam no mesmo quarto na infância. A violência do pai, Thomas, contra os filhos e a mãe, Peggy, trouxe traumas em comum na casa onde viviam em Longsight, Manchester.
Noel e o irmão mais velho, Paul, desenvolveram gagueira. Liam, poupado dos espancamentos por ser cinco anos mais jovem, buscou na autossuficiência e nos amigos uma saída. A salvação foi se dedicar a uma paixão. Foi assim que nasceu a redenção dos dois: os primeiros acordes do Oasis.
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O grupo inglês ficou marcado por um instrumental intenso e um vocal suave. Revolta e ternura. Tudo começou com um entendimento. Liam aceitou que Noel conduzisse sua banda de adolescentes. O grupo se consagrou entre 1994 e 2009, como a maior sensação da chamada britpop.
O estilo irreverente dos irmãos deu identidade à juventude britânica – sempre vanguarda para o mundo – com o penteado mod, casacos esportivos e tênis da Adidas. Tornaram-se referência ao canalizarem na música seus conflitos e sua ânsia juvenis.
E depois de 15 anos separados, ambos anunciaram, nesta semana, o retorno do Oasis para uma turnê em 2025. Deverão arrecadar mais de R$ 320 milhões pela empreitada.
Os ingressos das apresentações começam a ser vendidos neste sábado, 31. Os shows da banda serão realizados no Reino Unido e Irlanda, a partir de 4 de julho. Serão, inicialmente, 14 apresentações.
Noel era apegado à música desde que recebeu um violão da mãe. Na época, atuava em sua própria banda, a Inspiral Carpets, em 1989.
Então, a partir do primeiro álbum, em 1994, Definitely Maybe, o que era para ser uma rivalidade entre irmãos ganhou repercussão mundial. Muito dos momentos vividos por Noel, o compositor, foram retratados naquele álbum, Repleto de músicas feitas nos anos 1980. Estimuladas pelo ritmo e linhas melódicas de vocalistas como Morrissey, do The Smiths.
Brigas públicas, a última em uma apresentação em 2009, motivaram a separação do grupo. Eram duas estrelas que rivalizavam pelo protagonismo, Escancaravam o sucesso diante do passado sofrido.
As diferenças entre ambos eram justamente por terem muita coisa em comum: cresceram em um ambiente violento, o que alimentou a revolta e a busca por um sentido. Uma revolta que, libertada pelo talento que ambos sabem que possuem, os impele a dizerem o que pensam, o tempo inteiro.
A turnê em 2025 irá marcar o 30º aniversário do segundo álbum da banda, (What’s the Story) Morning Glory?, que inclui os sucessos Wonderwall e Don’t Look Back in Anger.
Wonderwall foi um marco dos anos 1990 e o maior sucesso do grupo. Inspirada em um álbum com o mesmo nome, de George Harrison, se tornou também lema da torcida do Manchester City.
Muito em comum
A paixão pelo clube da cidade é mais uma coisa que ambos têm em comum. E a própria ascensão do City ao cenário nacional e internacional coincidiu com o sucesso dos irmãos. Liam, no entanto, revela que Live Forever é a música que mais gosta de cantar.
O afastamento foi motivado também pelo segundo casamento de Noel, 57 anos, com a empresária Sara MacDonald. Agora, passada a fúria, os irmãos se reúnem novamente, com um clima de cordialidade.
Liam, 51 anos, admite que as briguinhas nem se comparam com as dificuldades e a pobreza da infância.
“Meu eu de 16 anos imaginava estar em uma banda do mesmo jeito que eu estou agora”, afirmou ao Daily Telegraph. “A música nunca me deixou na mão. É tudo o que eu sempre imaginei que seria. Mesmo quando as coisas ficaram ruins entre mim e Noel no fim do Oasis, ainda era melhor do que cavar buracos.”
Coincidência ou não, Noel se divorciou de Sara. Agora, ele admite, em entrevista ao jornalista e músico John Robb, que Liam tem lá suas qualidades.
“Eu não consigo cantar Slide Away, Cigarettes & Alcohol, Rock ‘N’ Roll Star, Columbia e tudo isso”, declarou um conciliador Noel. “Quer dizer, eu consigo fazer isso, mas não é o mesmo. É a entrega ou o tom de sua voz e a atitude. Eu não tenho a mesma atitude que ele.”
Noel ainda prosseguiu.
“Eu canto Supersonic com a mesma melodia, as mesmas palavras, as mesmas inflexões, mas quando ele canta, é um pouco mais ameaçador,” disse. “Quando eu cantava uma música, ela soava bem, quando ele cantava, ela soava ótima.”
O retorno do Oasis vinha amadurecendo, alimentado pelas declarações amistosas dois dois. Liam chegou a dizer, em 2023, que se o City vencesse a Champions League, isso ocorreria.
O título veio e, pouco mais de um ano depois, o reencontro se confirmou. Até que foi algo simples. Dois irmãos, que brigam e se admiram, decidiram voltar a tocar juntos. A diferença é que eles vão fazer as pazes diante de milhões.
Machões em crise 
